quinta-feira, 26 de julho de 2012

Cristo é a fonte da santificação


Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele,  nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças.  Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;  porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. (Cl 2:6-9)

Uma das inquietações mais comuns entre cristãos que querem viver Cristo é sobre como desfrutar de uma vida santa.  Um cristão realmente regenerado e justificado pela fé, vive uma inquietação constante, uma busca por respostas reais e recursos para viver a liberdade de uma vida reta e santa.  Enquanto para muitos, os mandamentos de Deus podem parecer penosos, um cristão verdadeiro, não consegue parar de sonhar em viver uma vida plena sob a "lei da liberdade" (Tg 1:25 e 2:12), que é a "lei de Cristo" (I Co 9:12).

Porém, devemos localizar a santificação dentro do que chamamos de doutrina da salvação.  Gosto do conceito cristão clássico-reformado de ordo salutis (ordem da salvação).  Um recurso didático-teológico que nos ajuda a entender como a salvação opera, e como ela envolve vários processos internos, que basicamente são:

1. Eleição/Chamamento
2. Regeneração ou novo-nascimento;
3. Conversão: arrependimento e fé;
4. Justificação (imputação da justiça de Cristo no pecador);
5. Santificação;
6. Glorificação.

Eles não devem ser entendidos necessariamente em ordem cronológica ou períodos estanques isolados uns dos outros.  Mas, como um movimento complexo e interdependente entre suas partes.  Tendo isto em mente, é importante mencionar que uma peculiaridade da doutrina reformada é que ela coloca a regeneração como um aspecto básico (pré-requisito) para a conversão.   Isto é curioso, pois outras correntes cristãs consideram a regeneração (novo nascimento) como resultado da fé e do arrependimento, e na perspectiva reformada é justamente o contrário.  

A tradição reformada é a mais compatível com a doutrina apostólica neste sentido, pois, de fato, não é possível se arrepender estando morto.  Como é possível algum tipo de consciência sobre o pecado e a justiça de Deus sem que primeiro o indivíduo liberte-se da inconsciência causada pela morte.  Por isso Paulo em Efésios 2:1 atesta-se que 'Deus primeiro nos deu vida quando estávamos mortos em nossos pecados'.  Sem esta "nova vida" (a regeneração) não é possível se "arrepender" ou "crer".  Só se tem consciência de que se estava "morto em delitos e pecados" quando se sai da "tumba", sem esta consciência do pecado e da morte, não é possível arrependimento e fé no sacrifício substitutivo de Cristo.

Com a regeneração (quando nascemos da vontade de Deus - João 1:1 e seg.), que é  quando nos tornamos filhos de Deus (adoção), nos arrependemos conscientemente  e recebemos o dom da fé para lançarmos nossa irrestrita confiança na perfeita obra de Cristo.   Uma vez que confiamos e abraçamos tudo que Jesus fez e assumimos que a obra na cruz foi suficiente, Deus o Pai, nos atribui a justiça de Cristo, ou na linguagem bíblica, nos "imputa" a justiça dele.  

Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios,  sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.  (Gl 2:15-16).

Uma vez justificados e unidos com Jesus pela fé, desfrutamos de sua graça de forma constante, pela ação do Espírito Santo que nos é comunicado por meio desta relação de unidade.  Os teólogos chamariam esta unidade entre o cristão e Cristo de "união mística", que significa que ao se crer em Jesus, pelo Espírito Santo, a retidão e santidade dele é comunicada ao homem, que tem, por sua vez, sua condição pecaminosa, agora, atribuída a Cristo, no seu sacrifício substitutivo (propiciação).

Daí, o Espírito Santo vai produzindo em nós, de "glória em glória" (II Co 3:18), a semelhança com Jesus. Aqui chegamos em um ponto central.

Mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus.  (I Co 6:11)

Há cristãos que vivem em constante tensão, pois acabam sendo tentados a achar que conseguem se santificar como se tivessem força ou recursos próprios para isto.  Mas, na verdade, esta dedicação a Deus de uma vida cada vez mais livre do pecado, que é a santificação, depende de uma única fonte: Jesus Cristo.

A proposta desta reflexão é reafirmar de forma clara que não existe santificação fora de Jesus e sua suficiência.  Não existe poder para uma vida indissolúvel e íntegra fora de Jesus.  Ele é a fonte inesgotável (I Co 10:4), ele é o pão que desceu do céu (Jo 6:51), ele tem a água que mata a sede (Jo 4:10), ele é a videira verdadeira (Jo 15) e assim por diante. 

Não há autêntica santificação (revelação da justiça) sem renovada fé em Cristo (At 26:18).  Já dizia o apóstolo: é de "fé em fé" (Rm 1:17).  Por este motivo, cristãos devem frequentemente renovar sua fé em Jesus, ele deve reavivar sua lembrança e refrescar sua memória (renovação da mente - Rm 1:1-2) a respeito do que Jesus fez, quem Ele é, e o motivo de se ligar a ele.  A fé em Jesus é uma constante afirmação, uma renovação credal, de que estamos ligados, radicados e edificados nele (Cl 2:7).  Só há santidade, se Cristo mesmo for a causa e o combustível para tal santificação.

"Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim" (Jo 15:16)

Temos recursos para isto.  Cristo por meio do Espírito Santo opera e testemunha em nós.  "Cristo em vós",  já dizia Paulo, a "esperança da glória" (Cl 1:27).  A fé em Cristo é correspondida com recursos e dádivas para darmos prosseguimento.  Para isto, devemos nos expor aos meios de graça pelos quais desfrutamos mais de Cristo, eles são: a Palavra, o sacramento da ceia, a vida comunitária , a oração, a adoração e tantos outro recursos disponíveis pelo Espírito Santo.

Finalmente, receba este convite, de ser como uma "árvore plantada junto a ribeiros" (Sl 1:3; Jr 17:8), Cristo é fonte de nossa constante nutrição.  Distanciar-se dele, deixar de pensar e viver nele, é cair em uma rotina mórbida, de secura e aridez espirituais.  Você pode falar um monte de coisa sobre a Bíblia e religião, mas não passará de um tagarela hipócrita, sem nunca desfrutar da vitalidade e da nova vida que Jesus oferece.

Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.  Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.  E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade. (Jo 17:17-19)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

POR QUE É DIFÍCIL PLANTAR IGREJAS MISSIONAIS NO BRASIL?


Polêmica, sincera e real, o título da postagem em forma de pergunta expõe as inquietações primeiramente pessoais e também compartilhada por outros discípulos de Jesus que lideram igrejas e desejam e anseiam por uma igreja marcadamente missional onde os discípulos vivem em seus contextos locais de forma intencional iluminando e salgando seu ambiente vivencial.

Ser missional não é um modismo eclesiológico importado de fora do país mas sim viver o Evangelho na prática de vida. Missional foi o termo alcunhado para vivenciar a grande comissão como mandamento do Senhor Jesus Cristo em Mateus 28:18ss. A grande comissão não é um pedido nem uma opção mas sim um mandamento para os discípulos devendo ser uma filosofia de vida, um modus vivendis para os resgatados por Cristo. Em tese todo discípulo é um missionário de Jesus em seu contexto local, o que torna errado o olhar religioso de que somente os missionários “pagos” e “profissionais” são responsáveis pela missão. A missão está na própria prática da Trindade econômica (termo teológico usado para o envolvimento da Trindade na redenção dos pecadores) em que Deus Pai envia o Deus filho, Jesus Cristo, para o resgate dos pecadores e ambos enviam o Deus Espírito Santo para aplicar a redenção e o crescimento que procede dela. Usamos o termo Missio Dei para isso: a missão de Deus.

Mas se é tão claro quanto a água por que não temos isso na prática? Por que é tão difícil implantar igrejas com o DNA missional? Por que é mais difícil ainda conduzir uma transição de igrejas estagnadas e estabilizadas para igrejas missionais? Sem a presunção de ser exaustivo ou de responder todas essas perguntas de forma profundamente necessária, as respostas partem de inquietações e observações pessoais e de conversas com amigos.

1 - O problema da idolatria, o ídolo do coração humano e a religião. Calvino vai dizer que o coração humano é uma fabrica de ídolos. Após a queda do primeiro homem, Adão, representando a raça humana (Romanos 5:12-18) o coração do ser humano passou a adorar outros “deuses” e não mais o Senhor como Adão o fazia antes da queda. Assim, Caim matou Abel pela idolatria a si próprio. Na torre de Babel em Gênesis 11, a idolatria leva os homens a construirem uma torre para tentar ser igual a Deus. Esse é o problema da religião tão entranhada no coração do brasileiro. Ser missional é detestar a religião e amar o Evangelho com intensidade. Mas por causa da nossa colonização e influência cultural, o Brasil é um país religioso e as vezes uma pessoa convertida por Jesus pode ter o sincretismo religioso causando uma miopia na sua ótica evangélica do discipulado. A religião (a idólatra tentativa de se achegar a Deus pelas próprias mãos e vias, ou seja, pelas obras) é um obstáculo a um estilo de vida missional.

2 – Idolatria, religião e instituicionalização: Como consequência do ponto anterior, uma dificuldade de ser missional em nossa pátria é que a colonização brasileira e sua origem romana e feudal faz com que haja vícios institucionais no discipulado. Daí, desprezamos a forma de discipulado e crescimento orgânico que o Senhor Jesus ministrou aos discípulos. Não estou afirmando que a instituição é ruím ou deve ser desprezada. Muito pelo contrário, ela tem o seu lugar no avanço do Reino de Deus. Porém muito se enfatiza a instituição em detrimento do caráter orgânico do discipulado em amar, servir e treinar as pessoas no Evangelho de Jesus. Isso faz com que haja inflexibilidade nas formas e uma dificuldade em ministrar a um contexto brasileiro e pós-moderno na perspectiva do discipulado e da missão.

3 – Humanismo e má Teologia: Nossa cultura positivista ou pós-moderna, dependendo do ambiente, acredita no mito da bondade intrínseca humana. O semi-pelagianismo orienta boa parte do contexto evangélico. Daí se vê o discipulado legalista, religioso e moralista (ou a polarização para uma práxis libertina e licensiosa) em detrimento de um discipulado evangélico centrado na graça de Deus. Confessa-se a salvação pela graça mas esquece-se dela no discipulado não entendendo que a graça que redime é a graça que preserva.

4 – Consumo religioso, Super mercado da fé e a comercialização do Sagrado: Desde os contextos híper-pentecostais (prefiro esse termo do que neo-pentecostal) até históricos e a herética teologia da prosperidade desde sua versão estrita até uma forma mais diluída tem permeado igrejas que tratam seus membros como consumidores. Em contextos históricos do protestantismo brasileiro, a igreja é vista como um hospital somente e um pastor o capelão profissionalmente pago para evangelizar e cuidar dos doentes. Em igrejas contemporâneas o pastor é um executivo e os membros clientes da fé.

5 – O ídolo do sentimento: Valorização das emoções exacerbadas em detrimento do uso da mente e da pratica de vida. Não estou desprezando o uso das emoções. Elas tem o seu lugar mas não são as emoções que guiam as nossas vidas. Elas devem estar conectadas com a mente no uso da Bíblia para a crença e a prática de vida. Escrevi sobre isso especificamente  aqui.

Apontando caminhos:

Pode parecer que pintei um quadro negativo mas é isso mesmo. Com isso não quero parecer desanimado e nem dizer que desacredito do sonho de ver cidades sendo influenciadas pelo Evangelho de Cristo. Mas o objetivo foi apontar algumas barreiras que procedem do pecado e são transformadas pela graça de Cristo. O caminho para uma igreja missional marcada por discípulos encarnando o Evangelho na comunidade é a perseverança, o ensino e treinamento e paciência de saber que, as vezes, é necessário longos anos para treinar uma comunidade em nossa pátria.

Que Deus nos fortaleça nessa árdua tarefa enquanto aguardamos novos céus e nova terra. Vem, Jesus!

Pr. Juan de Paula

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Deus é imutável em suas ameaças - CH Spurgeon (1834-1892)


Se toda promessa for firme, e todo juramento da aliança for cumprido, preste atenção pecador - observe esta palavra - veja a morte de suas esperanças carnais; veja o enterro de sua confiança carnal. Cada ameaça de Deus, bem como cada promessa, será cumprida. Com respeito a decretos - eu lhe falarei de um decreto: "Quem não crê será condenado" (Mar. 16:16).

Isso é um decreto e um estatuto que nunca pode mudar. Seja tão bom como quiser, seja tão moral quanto puder, seja tão honesto quanto quiser, caminhe tão corretamente quanto puder - existe uma ameaça inalterável: "Quem não crê será condenado". O que você diz sobre isso, moralista? Oh, você desejaria mudar isso, e dizer: "Quem não vive uma vida santa será condenado" (Mar. 16:16).

Isso seria verdade; mas não diz isso. Diz: "Quem não crê...". Aqui está a pedra de tropeço e a rocha de escândalo; porém você não pode alterar isso. Você precisa crer ou será condenado, diz a Bíblia; e veja, essa ameaça divina é inalterável tanto como o próprio Deus. E quando mil anos de tormentos no inferno tiverem passado, você olhará para cima e verá escrito em letras ardentes de fogo, "Quem não crê será condenado". "Mas Senhor, eu estou condenado."

Não obstante as Escrituras ainda dizem "será condenado". E quando um milhão de anos tiverem passado e você estiver exausto por suas dores e agonias, você olhará para cima e ainda lerá "SERÁ CONDENADO", inalterado, imutável. E mesmo que pense que a eternidade deu sua derradeira volta - que cada segundo do que chamamos eternidade já passou, você ainda verá escrito lá "SERÁ CONDENADO". Que pensamento terrível! Como ouso eu falar assim? Mas eu devo. Vocês devem ser advertidos, senhores, "a fim de que não venham também para este lugar de tormento" (Luc. 16:28). Eu devo anunciar coisas ásperas; pois se o evangelho de Deus não é uma coisa áspera, pelo menos a lei é; o Monte Sinai é uma coisa áspera. Ai do vigia que não adverte os ímpios. Deus é imutável nas Suas ameaças. Cuidado pecador, pois "horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo" (Heb. 10:31).


segunda-feira, 2 de julho de 2012

ÉTICA NAS PEQUENAS COMUNICAÇÕES


O Toninho chegava com riso mineiro, ardiloso, e cobrava: “Pastor, você ainda não foi nos visitar na casa nova. Olha, vou desenhar um mapa”. Um pedaço de papel, uma bic, e dois pontos. “Está vendo aqui? É a igreja. Aqui, é minha casa. É só ir daqui ali”.

Parece até profecia para os dias da internet. Dois pontos e um risco, e pretendemos que toda comunicação esteja feita. Quem digita não vê coração nem cara (a não ser no skype que poucos usam), mas imagina uma intimidade que beira a falta de pudor do namoro moderno, entre tapas e beijos. Muitas vezes, a guisa de ortodoxia política religiosa, teclamos ataques e defesas ingênuas ou maliciosas, ou trocamos franqueza por falta de educação, sem levar em contra que a linha entre nosso ponto e o outro, do outro lado do papel, é viva, é frágil. Com efeito, facebook não tem face senão fotos trabalhadas em photoshops seletivos. Pura imagem pública escondendo dores privadas. Pior ainda quando a transparência que deveria ser do coração revela os intestinos. Alguém já disse que a internet ilude quanto ao sentimento de uma intimidade virtual e de uma nudez real.

Jó, Moisés e Pedro, comunicadores cristãos dentre os mais fiéis, hábeis e sensíveis, instaram que levássemos em conta a fragilidade humana. O apóstolo escreveu:

Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente, pois fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente. Pois toda carne é como a erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente. Ora, esta é a palavra que vos foi evangelizada (1Pedro 1.22-25; ver Jó 42.2 e Salmo 90.5-6).

O mapa da Palavra de Deus serve bem para nos conduzir na pequena comunicação na internet. Não é um mapa de dois pontos virtuais; antes, é o encontro de almas purificadas pelo sangue de Cristo, obedientes à verdade, que visam o amor fraternal, não fingido, de coração, ardente, regenerado mediante a palavra de Deus que permanece para sempre. Especialmente, temos de considerar que mídia social e coisas tais são bem superficiais e passageiras, mas cujas consequências podem ser mais extensas e duradouras.

O apóstolo Paulo fornece um bom resumo, em Efésios 4.25-32:

1. “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” (v. 25). Frágeis, como somos, é fácil que não falemos a verdade ou, pelo menos, não toda a verdade. E pecadores como somos, até mesmo falando a verdade podemos ser maledicentes, esquecidos de que o amor cobre multidões de pecados (cf. 1Pedro 4.8). À primeira vista, parece que a solução está em simplesmente deixar a mentira e falar a verdade. No entanto, quem já tentou deletar, sabe como a mentira está arraigada no coração e quanto custa teclar a verdade. Se, porém entendermos que os dois termos, “deixar” e “falar”, são parte da proposta, e que a maneira de fazê-lo está na última parte do versículo – “somos membros uns dos outros” –, então, apreenderemos o sentido correto. Se os membros do nosso corpo mentirem uns aos outros, a verdade nos será por juiz e condenação. Mas, se, por outro lado, pertencermos uns aos outros, a mentira não terá sentido e prevalecerá a verdade – como também disse Paulo, a “verdade em amor” (Efésios 4.15).

2. “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” (v. 26, 27). A ira, em si mesma, não é sempre um pecado. Antes, ela é decorrente da verdade, como atributo de Deus (Romanos 1.18). A ira é um sentimento adequado em face da injustiça, assim como a dor que previne a pessoa de ultrapassar seu limiar de resistência. Entretanto, será pecaminosa quando, em vez de ser dirigida contra o objeto do pecado, a ira explodir contra outros ou se tornar em amargura que implode o coração. De qualquer modo, ambos os movimentos acabarão contaminando a outros (Hebreus 142.14, 15). Não quer dizer que a injustiça deverá ser posta de lado, mas, antes, que terá de ser tratada logo, mas sem dar lugar ao diabo. A maneira como atuamos terá de ser concorde com a justiça que pretendemos. Assim, será preciso lembrar que a justiça nas mãos da ira mal usada serve de arma de injustiça. Lembre-se de que corrigir com brandura e em privado produz o efeito da graça: abranda o furor e convence o coração.

3. “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (v. 28). Hoje em dia, furto é uma palavra vaga, quase uma necessidade no embate entre os ladrões de venda nos olhos e os ladrões de vendas do mercado e da política. Somos, muitas vezes, religiosos que promulgam a lei da carne e furtam a graça divina, com dois pesos e duas medidas. Que será? Seremos aqueles que professam que “não pode beber, não pode dançar e não pode pagar dívida”? Nós não pensamos que envergonhar alguém em público seja pela maledicência seja pela exposição do erro, configura furto da honra, assassinato de caráter.  Se eu erro no blog, “me desculpem”, mas se outros erram, eu acho o endereço da postagem ainda que seja do século passado? O segredo da mudança, aqui, é claro: trabalho para se sustentar e generosidade para com quem tem necessidade. Sequer posso me furtar a apresentar o melhor possível nas minhas postagens e ajudar ao outro a melhorar e progredir nas suas colocações.

Depois de apor as três ideias, Paulo conclui, dizendo que toda comunicação deve “transmitir graça aos que ouvem” (v. 29), evitando a palavra torpe, isto é, torcida, que não edifica. Nossas conversas que não produzirem graça certamente entristecerão o Espírito que nos sela para a redenção (v. 30). “Longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (v. 31, 32).

Wadislau Martins Gomes