sábado, 30 de agosto de 2014

Uma agenda para o voto consciente

Por Franklin Ferreira

“Eu tenho ouvido: ‘Não traga a religião para a política’. É precisamente para este lugar que ela deveria ser trazida e colocada ali na frente de todos os homens como um candelabro”
(C. H. Spurgeon).

Como se costuma dizer, “a política é o espaço do bem comum”, frase que pode ser entendida como uma forma de praticar o amor cristão. Afinal, é pela ação política que muitas pessoas no país podem ser beneficiadas pelo bem e pela justiça. Mas para que isso aconteça, é necessário que a prática política esteja fundamentada em valores éticos. Além disso, a transformação da conjuntura social de acordo com a cosmovisão cristã é, também, uma forma de evangelizar. Portanto, com o objetivo de propor o voto consciente e responsável aos cristãos evangélicos, sugerimos alguns elementos que deverão ser considerados na hora da sua escolha eleitoral:

1. Conheça bem o candidato que receberá o seu voto. Pesquise seu histórico pessoal, seus feitos, seus valores e suas propostas. Pesquise também suas promessas durante a campanha eleitoral, analisando se são plausíveis. Acompanhe as entrevistas que os candidatos concederem na mídia e compare o que cada um diz. Veja também se o candidato se porta com decência e se sua escala de valores é voltada para o interesse público. Se ele se identifica como cristão, é importante saber a que igreja ou comunidade ele está filiado e se ele a frequenta regularmente, buscando conselho e prestando-lhe contas. Enfim, não desperdice o seu voto com alguém de quem você nunca ouviu falar, sem saber as suas propostas e sua postura ética durante a campanha eleitoral.

2. Também considere se os projetos do candidato estão de acordo com os do partido ao qual ele está filiado, pois ao votar em um candidato você ao mesmo tempo vota num partido, ajudando a eleger candidatos do mesmo partido. Por isso, é preciso conhecer os programas e a filosofia do partido. No caso de candidatos evangélicos, é bom averiguar se estes e seus partidos não somente afirmam, mas estão comprometidos com a separação entre a Igreja e o Estado, lembrando que toda autoridade procede de Deus.

3. Lute contra todas as formas de corrupção, apoiando mecanismos de controle do uso do dinheiro público e das prioridades do governo; colaborando para que projetos tais como o Ficha Limpa, que tratem sobre a ética nas eleições, sejam conhecidos e aplicados; denunciando o uso da máquina administrativa federal, estadual ou municipal para favorecer determinados candidatos; em conformidade com a lei N.º 9.840/99, denunciando a compra de votos através de dinheiro, programas assistenciais ou promessas de vantagens pessoais, assim como quem obrigue os eleitores a votar em determinados candidatos, seja por meio de ameaças, seja através de pressão religiosa.

4. Apoie propostas que defendam a vida e a dignidade do ser humano em qualquer circunstância. Para a fé cristã, a vida humana é dom de Deus, desde a concepção no ventre materno até ao dia de sua morte. Portanto, proteger a vida inclui combater o aborto e a eutanásia; reprimir a violência por meio de políticas de segurança pública realistas; promover uma ética do trabalho que enfatize virtudes bíblicas, tais como honestidade, pontualidade, diligência, obediência ao quarto mandamento (“seis dias trabalharás”), obediência ao oitavo mandamento (“não furtarás”) e obediência ao décimo mandamento (“não cobiçarás”); defender o direito à propriedade privada como direito fundamental (cf. Êx 20.15, 17; 1Rs 21.1-29).

5. Verifique qual a proposta educacional do candidato, analisando se ele defende a qualidade e a liberdade do ensino, inclusive no âmbito religioso, promovendo uma escola digna e de qualidade. Confira também se ele promove as liberdades individuais, por meio do estabelecimento de normas gerais de conduta que redundem em liberdade de expressão, associação e de imprensa.

6. Rejeite candidatos e partidos com ênfases estatizantes e intervencionistas nas esferas familiar, eclesiástica, artística, trabalhista e escolar, que concebam um ambiente onde se tem pouca ou nenhuma liberdade pessoal e econômica. Para a fé cristã, a família, a igreja, o trabalho e a escola são esferas independentes do Estado, pois existem sem este, derivando sua autoridade somente de Deus. Logo, o papel do Estado é mediador, intervindo quando as diferentes esferas entram em conflito entre si ou para defender os fracos contra o abuso dos demais. Portanto, os cristãos devem não somente não apoiar, mas também resistir a um sistema político autoritário ou totalitário (cf. At 5.29; Ap 13.1-18).

7. Repudie ministros, igrejas ou denominações que tentem identificar determinada ideologia com o reino de Deus ou com a mensagem bíblica. Pois, como afirma a Declaração de Barmen [8.18], “rejeitamos a falsa doutrina de que à Igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização, a seu bel-prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes”. A igreja, ao proclamar com fidelidade a Palavra de Deus, influencia o Estado, de modo que suas leis se conformem com a vontade de Deus, decorrendo daí consequências políticas de tal fidelidade ao chamado primário da comunidade cristã.

8. Apoie candidatos comprometidos com propostas e leis que sejam derivadas da lei de Deus, como revelada nas Escrituras, pois esta é a fonte absoluta e final da ética pessoal, eclesiástica e social. Há que se ter compromisso por parte do candidato com o contrato social, que é um acordo entre os membros de uma sociedade pelo qual reconhecem a autoridade sobre todos de um conjunto de regras, a Constituição, que limita o poder, organiza o Estado e define direitos e garantias fundamentais.

9. Valorize candidatos e partidos comprometidos com o modelo republicano de governo, no qual a nação é governada pela lei constitucional e administrada por representantes eleitos pelo povo, assim como a divisão e a separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário, de modo que nenhum governo ou ramo do governo monopolize o poder. Assim também valorize aqueles que respeitem a alternância do poder civil, que impede que um partido ou autoridade se perpetue no poder, assim como a defesa do pluralismo político e partidário. Portanto, devem-se rejeitar candidatos que apoiem o Decreto N.º 8.243, conhecido como Política Nacional de Participação Social (PNPS). Tal decreto fere a cláusula pétrea constitucional da autonomia e independência dos Poderes, e praticamente desmonta a democracia representativa, substituindo-a pela participação popular direta, indicada, nomeada e controlada por órgãos do Estado.

10. Apoie candidatos que enfatizem as funções primordiais do Estado, onde os governantes têm a obrigação de zelar pela segurança do povo, pela qual pagamos tributos (cf. Rm 13.1-7), assim como ressaltem a limitação do poder do Estado, pois a partir das Escrituras, entende-se que o governo civil não tem autoridade para cobrar impostos exorbitantes, redistribuir propriedades ou renda, criar zonas francas ou confiscar depósitos bancários.

Pedimos que o Cristo Rei, o único e absoluto soberano Senhor, nos sustente e nos conduza sempre em nossas opções políticas. Façamos destas eleições um gesto de amor a este país e a nossos irmãos e irmãs, para maior glória de Deus.

Bibliografia:

• “A Declaração Teológica de Barmen”, em A Constituição da Igreja Presbiteriana Unida dos Estados Unidos da América, Parte 1: Livro de Confissões (São Paulo: Missão Presbiteriana do Brasil Central, 1969), 8.01-8.28.
• Johannes Althusius, Política (Rio de Janeiro: Top Books, 2003).
• João Calvino, As Institutas ou Tratado da Religião Cristã. ed. latina de 1559 (São Paulo: Cultura Cristã, 2006), IV.20.1-32.
• Wayne Grudem, Política segundo a Bíblia (São Paulo: Vida Nova, 2014).
• Abraham Kuyper, Calvinismo (São Paulo: Cultura Cristã, 2002).
• Augustus Nicodemus Lopes, Ética na política e a universidade: Carta de princípios 2006 (São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2006).
• Ives Gandra da Silva Martins, “Por um congresso inexpressivo”, Folha de São Paulo (10/06/2014). http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/06/1467665-ives-gandra-da-silva-martins-por-um-congresso-inexpressivo.shtml.
• Merval Pereira, “Desconstruindo a representação”, O Globo (08/06/2014). http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?blogadmin=true&cod_post=538649&ch=n.
• Francis Schaeffer, A igreja no século 21 (São Paulo: Cultura Cristã, 2010).
• C. H. Spurgeon, The Candle (Delivered on Lord’s-Day Morning, April 24, 1881, at The Metropolitan Tabernacle, Newington). http://www.spurgeongems.org/vols25-27/chs1594.pdf.
• Voto consciente: dever do cristão (Rio de Janeiro: Arquidiocese do Rio de Janeiro, s/d).

http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=402

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Acríticos conformados: uma forte tendência na igreja brasileira

por RUY MARINHO

Um perigoso bloqueio intelectual está sendo inserido na mente dos cristãos da igreja brasileira. Trata-se de uma onda de conformismo acrítico, ou seja, a aceitação cômoda de não criticar as palavras e atitudes das pessoas no ambiente eclesiástico, impossibilitando o crente de provar pensamentos e atitudes de maneira biblicamente racional.

O apóstolo Paulo adverte que a nossa fé não deve ser irracional: "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12.1, negrito meu)1. O reformador Calvino alertou que "a fé não consiste na ignorância, senão no conhecimento; e este conhecimento há de ser não somente de Deus, senão também de sua divina vontade"2. Excluindo o senso racional, o cristão ficará intelectualmente enfraquecido e mais propício a aceitar os enganos dos falsos profetas que Cristo nos alertou: "levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos" (Mt 24.11).

Em primeira análise, percebemos que este bloqueio intelectual é resultante dos famosos terrorismos espirituais, causados por clichês como "não toqueis nos ungidos de Deus" e "não devemos julgar", que infelizmente são ensinados e defendidos por muitos líderes. Porém, é importante salientar que na verdade trata-se de conceitos teológicos errôneos, os quais têm como objetivo impossibilitar a pessoa de desenvolver suas faculdades mentais de raciocínio lógico, facilitando o falso líder a ter um controle manipulável dos membros de sua respectiva comunidade.

Aqueles que são resignados a esta condição acrítica, acomodam-se na posição irracional de "crente manipulado", bloqueando qualquer ação iniciativa e inibindo o desejo de evoluir teologicamente. Ou seja, o crente estará sujeito à restrição de qualquer questão doutrinária e/ou moral, aprisionando sua mente ao ponto de não conseguir discernir mais o certo do errado. Neste caso, as verdades absolutas estão enganosamente contidas nas palavras de seus respectivos líderes e não na Bíblia. Com isso, não há entendimento bíblico correto dos textos sagrados, fazendo com que nos ambientes eclesiais os falsos conceitos ensinados sejam tidos como verdades espirituais absolutas e inquestionáveis.

Para as pessoas nessas condições, uma exortação vinda de alguém sobre o perigo iminente decorrente de algum erro teológico praticamente não possui efeito, pois a comodidade e a cegueira espiritual são um impedimento para tais pessoas crescerem e se aprofundarem nas verdades bíblicas, bem como desenvolverem a verdadeira fé cristã com discernimento e senso crítico. Afinal, a mentira dita várias vezes pelo falso líder torna-se verdade absoluta e a ideia apócrifa do "ungido de Deus incriticável" é facilmente implantada.

Na verdade, seguir este conceito é um tremendo engano, pois a Bíblia mostra exatamente o contrário! Um exemplo claro está em Atos 17.11, onde narra que os crentes de Bereia eram pessoas nobres, porque conferiram nas Escrituras o que ouviram de Paulo, para ver se, de fato, era verdade. Caro leitor, seja sincero! Você tem o costume de conferir na Bíblia tudo o que ouve e vê? Se a resposta for não, você pode estar vivendo algo parecido com o que descrevi acima.

Neste caso, é necessário uma atitude urgente, voltando-se para a Bíblia antes que seja tarde, pois se a mesma é a nossa única regra de fé e conduta, devemos tê-la como bússola para todas as nossas atitudes. Caso contrário, estaremos inconscientemente negando a Bíblia e depositando a nossa esperança em homens. O primeiro passo é desmistificar os dois pontos principais que causam o comodismo acrítico, citados no começo desse artigo.

1 – Não toqueis nos ungidos de Deus!

As passagens bíblicas utilizadas para defender que não devemos "tocar nos ungidos de Deus" são 1 Samuel 24.6, "E disse [Davi] aos seus homens: o Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do Senhor", e Salmo 105.15, "Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas".

Baseado nesses dois versículos, muitos líderes tendenciosos criaram uma classe especial de crentes que, segundo eles, seriam absolutamente incriticáveis ou inquestionáveis, como se fossem mediadores exclusivos entre o homem e Deus. Isso é um tremendo engano, pois o nosso único mediador é Jesus Cristo (1Tm 2.5).

Biblicamente, ungir significa "derramar óleo sobre". Na cultura judaica antiga, era a forma de oficializar um ofício de sacerdote, ou de reis, para credenciá-los a serem mediadores entre Deus e a humanidade. Por esta razão, Jesus é chamado de Cristo ou Messias, palavras que significam "ungido".

Em 1 Samuel 24.6, Davi está falando exclusivamente de Saul, que era ungido como rei. Em Salmo 105.15, o salmista fala dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Em ambos os casos, o sentido de "tocar", segundo o contexto, significa utilizar de violência física, maltratar, estender a mão contra. Em momento algum estas passagens são direcionadas contra questionamentos e/ou críticas. Se fosse assim, invalidaria a repreensão do profeta Natã a Davi (2Sm 12.1-15), a crítica e repreensão de Paulo para com Pedro em seu erro doutrinário (Gl 2.11-16) e até mesmo o próprio Jesus em várias críticas e repreensões que o mesmo fez aos fariseus (Mt 23.23; Lc 11.23).

No Novo Testamento, o termo "unção" (grego: chrisma) aparece apenas três vezes, dentro de uma mesma passagem, 1 João 2.20, 27, na qual afirma que todos nós recebemos e temos conhecimento da "unção que vem do Santo", ou seja, todos nós somos capacitados pelo Espírito Santo (2Co 1.21-22). Em comparação, a palavra "ungido" (grego: Christos) é direcionada exclusivamente para Cristo, nunca para os líderes da igreja, nem mesmo aos apóstolos3.

Portanto, não existe qualquer possibilidade exegética que dê margem para aplicar as passagens veterotestamentárias em questão aos líderes da igreja, tornando-os incriticáveis e imunes a repreensões.

2 – Não devemos julgar!

A primeira passagem bíblica que devemos analisar talvez seja a mais usada para afirmar que não devemos julgar aqueles que ensinam conceitos contrários às Escrituras. Trata-se de Mateus 7.1, "Não julgueis, para que não sejais julgados". Pegando este versículo isolado, de fato, a interpretação será absoluta para "não julgar". Porém, jamais devemos interpretar textos bíblicos de maneira isolada, retirando as passagens de seus respectivos contextos. E o contexto direto da passagem nos diz claramente que Jesus não proibiu o julgamento em si, mas um tipo de julgamento específico. Vejamos: "Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão" (Mt 7.2-5).

No versículo 1, Jesus disse aos judeus que eles não deveriam julgar. Já do versículo 2 em diante, Cristo dá a razão pela qual eles não poderiam julgar: o julgamento hipócrita! Os judeus estavam condenando os pecados dos irmãos, porém eles próprios estavam praticando as mesmas coisas (e até piores). Imagine, como exemplo, uma mulher que abortou uma criança criticando um bandido que matou alguém em um assalto! Por fim, no versículo 5, Cristo diz que devemos primeiramente corrigir os nossos próprios pecados, para somente depois ajudar o nosso irmão, corrigindo-o de seu erro.

Outra passagem bastante utilizada pelos líderes manipuladores é Romanos 14.10, onde diz: "Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo". Da mesma forma que Jesus, Paulo não está condenando o julgamento em si, mas sim um julgamento específico. Segundo o contexto, alguns irmãos recém convertidos eram legalistas; com isto, os cristãos mais experientes estavam ficando impacientes. Paulo faz uma exortação para que os mesmos sejam mais tolerantes e não julguem os débeis (fracos) na fé, acolhendo-os com aceitação, pois com o tempo o amadurecimento viria naturalmente. Vale lembrar que o que estava em questão não eram assuntos que comprometiam a ortodoxia cristã, mas sim pontos secundários da fé. Se fosse algo que comprometesse a fé cristã, Paulo com certeza teria outra atitude (Gl 1.6-7; 3.1-5; Fp 3.2, 18-19).

A Bíblia claramente instrui os cristãos a julgarem todas as coisas. Prova disto está em João 7.24: "Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça". No contexto da passagem, Cristo está confrontando os judeus que questionaram sua doutrina, e tinham-no acusado de ter um diabo (v. 20) e de quebrar o dia do Sábado curando um homem (Jo 5.1-16). A questão colocada por Jesus é o ato de julgar de maneira exterior e superficial, ou seja, sem conhecer realmente os fatos, tornando o julgamento injusto. O ato de julgar "pela reta justiça" tem como premissa a lei de Deus como padrão pelo qual discernimos as coisas, pois a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática.

1 Coríntios 5 também é uma base bíblica importante a respeito do nosso dever de julgar. No versículo 3, Paulo declara, sob a inspiração do Espírito, que ele tinha julgado um membro da igreja em Corinto que estava vivendo no pecado de fornicação. Seu julgamento a tal pessoa foi: "seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus". Já nos versículos 9 a 13, Paulo lembra aos santos do seu dever de julgar as pessoas que estão dentro da igreja, se elas estão ou não obedecendo à lei de Deus. Aqueles que alegam ser cristãos e são membros da igreja, mas que são julgados como sendo desobedientes a qualquer mandamento da lei de Deus (v. 9-10), devem ser excluídos da comunhão da Igreja. Paulo, sob a inspiração do Espírito, diz para a igreja não tolerar pecadores impertinentes.

Outras passagens bíblicas também indicam que é de nossa responsabilidade julgar. Jesus pergunta às pessoas em Lucas 12.57: "E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?". Paulo orou para que o amor dos crentes em Filipos "aumentasse mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção" (Fp 1.9). Ele disse aos Coríntios: "Falo como a criteriosos; julgai vós mesmos o que digo" (1Co 10.15).

Os cristãos são solicitados a examinar tudo e reter o bem (1Ts 5.21). Eles também são obrigados a provar se os espíritos são de Deus: "Irmãos, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas tem saído pelo mundo afora" (1Jo 4.1). Mesmo nas reuniões cristãs eles devem "julgar" o que ouvem: "Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem" (1Co 14.29). Os crentes de Corinto receberam ordens para julgar imediatamente a imoralidade existente entre os seus membros (1Co 5.1-8). Mesmo o estrangeiro de passagem não deve ser hospedado se for verificado que não se trata de uma pessoa alicerçada na verdadeira fé (2Jo 10, 11). Deve ser considerado como anátema (maldição) aqueles que apresentarem algum tipo diferente de evangelho (Gl 1.9).

Portanto, concluímos que biblicamente é dever de todo cristão julgar, fazendo juízo através de suas faculdades mentais de raciocínio. Se alguém ensinar algo em desacordo com as Escrituras, mesmo partindo do líder de sua igreja, esta pessoa deve ser confrontada com a Bíblia, obviamente com respeito e submissão. Ninguém, absolutamente, é intocável ou incriticável, pois não há respaldo bíblico para afirmar que exista um nível de "unção especial" que anule o raciocínio para o entendimento de qualquer coisa falada, ensinada e praticada. Tudo deve ser conferido na Bíblia.

Por fim, alerto que este ato de julgar não significa fazer injúrias ou calúnias, com comportamentos de sarcasmo e desprezo sobre a pessoa que está no erro, mas sim deve ser feito com linguagem sadia e irrepreensível, no âmbito teológico e moral (Tt 2.7-8, 1Pe 3.15-16). Se alguém está desviando-se do Evangelho e pregando heresias, a nossa obrigação é alertar, repreender, exortar e conduzir o pecador ao entendimento bíblico (2Tm 4.2-4). Caso a disciplina seja indispensável, a mesma deve ser aplicada com seriedade, amor e tristeza, sempre objetivando o arrependimento, e não a condenação eterna do pecador, algo que cabe exclusivamente a Deus.

1 A tradução bíblica utilizada no artigo é a Almeida Revista e Atualizada – SBB.

2 CALVINO, João. As Institutas Vol. 3. Casa Ed. Presbiteriana. São Paulo, 1985. p. 25.

3 Concordância Fiel do Novo Testamento Grego-Português, Vol. 2. – Editora Fiel.

http://www.pensebiblicamente.com/posts/2013/acriticos-conformados-tendencia-na-igreja-brasileira.html

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Depois da Oração - Uma oração puritana.

Ó Deus da graça,
Lamento por minhas orações frias, indiferentes, insensíveis;
a pobreza delas acrescenta pecado acima de pecado.
Se minha esperança estivesse nelas, eu estaria liquidado;
Mas o preço de Cristo perfuma meu frágil gaguejar,
e ganha sua aceitação.
Aprofunda minha contrição de coração,
Confirma minha fé no sangue que lava de todo o pecado.
Que eu possa andar amavelmente com meu grande redentor.
Inunda minh´alma com verdadeiro arrependimento,
que meu coração esteja em pedaços por causa do pecado e para o pecado.
Que eu esteja tão lento para perdoar a mim mesmo
como tu és rápido para perdoar-me.
Olhando as glórias da tua graça,
que eu seja lançado no abismo mais profundo da vergonha,
e ande de cabeça baixa, pois tu me pacificaste.
Ó meu grande sumo-sacerdote,
derrame sobre mim correntes da necessária graça,
abençoa-me em cada um dos meus empreendimentos,
em cada pensamento da minha mente,
cada palavra dos meus lábios,
cada passo dos meus pés,
cada obra das minhas mãos.
Tu viveste para abençoar,
morreste para abençoar,
ressurgiste para abençoar,
ascendeste para abençoar,
tomaste teu trono para abençoar,
e agora reinas para abençoar.
Ó Deus da graça!
Dá sinceridade aos meus desejos,
seriedade às minhas suplicas,
fervor ao meu amor.

AMÉM.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

A Importância de uma Exegese Correta

Daniel Doriani

Um estudioso da Bíblia entra na cozinha de um amigo e vê um imã fixando um plano de dieta na porta da geladeira. O plano diz: “’Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês’, diz o Senhor, ‘planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro’” (Jr 29.11 NVI). Esse amigo em dieta está interpretando a Bíblia corretamente? O primeiro princípio da interpretação é “leia contextualmente”. O estudioso da Bíblia pensa consigo mesmo: “Ele sabe que Jeremias falava aos líderes de Israel que estavam no exílio na Babilônia? Que uma palavra falada à nação de Israel não é necessariamente uma promessa pessoal a cristãos individuais?” O estudioso se preocupa: “Meu amigo pensa que Deus prometeu prosperá-lo através desse plano de dieta?” Ou o treinamento do estudioso o deixou louco? “Talvez meu amigo simplesmente queira lembrar que Deus é por seu povo”, o estudioso pensa, “inclusive por ele mesmo”.

 Nós confessamos que a Bíblia é a Palavra de Deus, mas a menos que a leiamos e a interpretemos apropriadamente, nossa confissão é uma mera formalidade. Uma exegese bíblica correta é essencial se esperamos conhecer e agir a partir da verdade bíblica. Uma interpretação correta possui dois elementos: o técnico e o pessoal. Do lado técnico, devemos ler a Bíblia de acordo com a gramática e o léxico da época. Não é suficiente saber o que palavras como carne, aliança, juiz, talento, escravo ou justificação significam hoje; nós devemos saber o que elas significavam naquela época. Em segundo lugar, devemos ler o texto em seus contextos literário e cultural.

A frequente ordenança “saudai uns aos outros com ósculo santo” (Rm 16.16; 1Co 16.20; 2Co 13.12; 1Ts 5.26; 1Pe 5.14) ilustra ambos os princípios. No ocidente, nós ingenuamente assumimos que esse beijo é algo para pessoas do primeiro século fazerem, mas não para nós. Mas não podemos simplesmente desconsiderar uma ordenança; nós devemos investigar. Quando fazemos isso, descobrimos que o “beijo” se tratava de um toque ritual de bochechas, não de lábios, e que era sempre de homem para homem ou de mulher para mulher, não de homem para mulher. Culturalmente, o beijo demonstrava amizade, afinidade e afeição. Portanto, para obedecer a ordenança em nossa cultura, nós avaliamos como nós demonstramos lealdade e afeição, e praticamos isso. A exegese correta descobre que o beijo em si não é a preocupação de Paulo. Ao invés disso, ele deseja que os crentes demonstrem lealdade e afeição de formas que possam adequar-se a cada cultura.

Leitores sérios possuem uma pergunta tríplice a respeito da interpretação bíblica: o que significava, o que significa e como isso se aplica? A pergunta é ainda mais urgente quando discípulos perguntam: quando eu interpreto uma afirmação literalmente e quando eu a interpreto de forma figurada? Quando devemos obedecer uma ordenança literalmente e quando não devemos? Nós respondemos essas questões estudando uma passagem em seu contexto cultural.

Tome, por exemplo, a questão de cobrir a cabeça e dos cabelos longos das mulheres (1Co 11.2-16). O véu é uma questão em si mesmo ou é um sinal de alguma coisa? Tradicionalmente, muitos cristãos tomaram a prescrição do véu como permanentemente obrigatória. Mesmo hoje, muitos insistem que o princípio permanente da autoridade masculina no lar significa que as mulheres devem cobrir as suas cabeças na igreja. Outros, contudo, argumentam que cortes de cabelo variam imensamente entre e dentro de culturas, e carregam pesos simbólicos variáveis. Os primeiros presidentes dos Estados Unidos usavam perucas e, até 1915, a maioria possuía pêlos faciais proeminentes. Retratos greco-romanos mostram que mulheres respeitáveis cobriam seus cabelos e os deixavam presos, não soltos. Hoje, mulheres casadas piedosas perguntam como sua aparência pode demonstrar respeito por seus maridos.

Uma segunda maneira de compreender o significado e a aplicação da Bíblia é seguindo a progressão de pensamento em uma passagem. Por exemplo, uma mulher certa vez disse a Jesus: “Bem-aventurada aquela que te concebeu, e os seios que te amamentaram!” (Lc 11.27). Esse louvor à mãe de Jesus parece estranho, mas naquela cultura as pessoas acreditavam que mulheres podiam encontrar grandeza ao dar à luz um grande filho. Ela pretendia bendizer Jesus ao bendizer Maria. A resposta de Jesus é intrigante: “Antes, bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a guardam!” (v. 28). O termo antes sugere que Jesus pretende gentilmente corrigi-la. Antes significa “sim, mas há mais”. O elogio dela é louvável, mas ela sutilmente diminui o sexo feminino ao assumir que uma mulher encontra grandeza através da ligação com um grande homem. Embora isso não seja inteiramente falso, uma mulher encontra verdadeira grandeza ao se tornar um fiel discípulo. Nesse caso, a exegese correta exige recursos. Qualquer comentário cuidadoso vai abordar os fatores culturais em Lucas 11. Dicionários bíblicos e enciclopédias bíblicas também são grandes auxílios.

Uma exegese adequada neste caso também requer que observemos a sutil mudança marcada pela palavra antes. Leitores cuidadosos prestam atenção em termos que significam uma mudança no pensamento. Quando uma passagem contrasta ideias, tira conclusões ou faz concessões, nós frequentemente vemos termos como mas, ou, ademais, ainda, visto que, pois, porque, então, portanto, a fim de que, e muito mais.
O discurso bíblico frequentemente deixa o ponto principal claro ao colocá-lo primeiro ou por último em uma passagem, ou repetindo-o (Sl 103.1-2; Tg 2.17, 20, 26). Mas devemos ler cuidadosamente para ver como a passagem alcança ou desenvolve o ponto principal. Por exemplo, o tema de Romanos 3.21-4.25 é a justificação pela fé somente, mas a função de 4.1-8 não é imediatamente óbvia. A frase é assim também que Davi declara (4.6) mostra que há alguma conexão. Uma reflexão demonstra que a conexão é: sabendo que aquela única declaração a respeito da justificação pela fé não será suficiente, Paulo ilustra seu ponto através dos heróis da fé, Abraão e Davi. A lição: nem mesmo Abraão, com suas incríveis ações, foi salvo pelas obras. E mesmo Davi, com seus terríveis pecados, foi perdoado e justificado pela fé. Se esses dois são justificados pela fé somente, todos os crentes são.

Nós temos muitos livros excelentes sobre métodos de estudo bíblico. Juntos eles respondem nossas perguntas comuns. Por exemplo, quando lemos história, deveríamos preferir a interpretação literal da Escritura, em que um monte é um monte. Ainda assim, o ensino de Jesus e dos profetas irrompe em metáforas, hipérboles e ironias. Jesus fez perguntas profundas esperando respostas, enquanto se recusava a dar uma resposta direta para metade das perguntas que lhe faziam. Jesus interpretou algumas parábolas (Mt 13.3-43), mas nos deixa tentar decifrar outras (v. 37). Semelhantemente, o Apocalipse ocasionalmente oferece dicas a respeito da interpretação apropriada de seus símbolos (por exemplo, Ap 12.7-12).
Moisés e Paulo possuíam um estilo linear e proposicional, mas Jesus e a maioria dos profetas amam poemas, parábolas e analogias que nos prendem com sua vivacidade, ou sua estranheza, e nos convidam a pensar. Quando nós os lemos, um monte pode ser um lugar de rebelião. Nesse sentido, Jeremias 51.25 chama a Babilônia, uma cidade localizada em uma vasta planície, de um “monte que destrói”. 

Semelhantemente, enquanto a maior parte das narrativas enunciam imediatamente a mensagem, outras se esticam por páginas sem fazê-lo. Se mantivermos a atenção no estilo ou no gênero de cada livro, essas coisas se tornam claras. Em sua sabedoria, Deus escolhe nos entregar verdades básicas como “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1Tm 1.15). Mas ele nos deixa lutar para entender outros princípios.

Ocasionalmente, Jesus escolheu ser enigmático como repreensão àqueles que se recusavam a ouvir a sua palavra ou a prestar atenção aos seus sinais (Mt 13.11-17; veja Am 8.11; Jo 8.45). Ainda assim, a Bíblia não é poesia elitista que pretende causar perplexidade. Deus nos deu a sua Palavra para que crêssemos nele, para que o amássemos pactualmente e para que o seguíssemos. João disse que recontou os sinais de Jesus “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31).

Conforme consideramos repreensões e fé, nós entramos no ângulo pessoal da interpretação. Os profetas e Apóstolos sabiam que suas palavras encontrariam rejeição e distorção deliberada (Jr 36.23; 2Pe 3.16), não apenas interpretação errônea comum. Portanto, Deus nos diz que se nós lermos a Bíblia corretamente em um nível pessoal, nós o conheceremos e seremos conformados a Ele. Visto que ele “faz misericórdia, juízo e justiça”, nós também deveríamos fazê-lo (Jr 9.24; 22.3). Nós deveríamos nos tornar mais como Deus em nosso caráter e nossas práticas (Rm 8.29; Ef 4.32-5.2).

O ângulo pessoal explica por que a Bíblia, diferentemente de outros livros, nos conta como lê-la. Jesus diz que devemos ler integralmente, procurando por seu sofrimento e glória (Lc 24.25-27; Hb 2.9; 1Pe 1.11). Paulo diz que a Escritura pode “tornar-te sábio para a salvação” (2Tm 3.15). Os Salmos ordenam que o povo de Deus medite na Palavra para encontrar vida (Sl 1; 19; 119). Provérbios encoraja os leitores a valorizar a sabedoria e encontrar bênção (Pv 2.1; 7.1). Tiago 1.22 diz: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”. Paulo diz que devemos ler através do Espírito ao invés da letra da lei (2Co 3.6).

A Escritura também nos fala sobre como não ler. Jesus frequentemente censurou os líderes judeus por lerem a Escritura erroneamente, perguntando: “Não lestes?” (por exemplo, Mt 12.3-5; 19.4; 21.16, 42; 23.31). Jesus não questionou a escolaridade ou os hábitos de leitura deles. Eles liam a Escritura, mas falhavam em compreender o seu significado. Em quatro ocasiões, eles perderam de vista o testemunho de Jesus. Uma vez, eles seguiram a letra da lei e perderam a sua intenção.

Em Mateus 19, os fariseus perguntaram: “É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?” (Mt 19.3). Jesus respondeu, perguntando-lhes se haviam lido que Deus criou a humanidade macho e fêmea para tornarem-se uma só carne (vv. 4-6). Ainda assim, muitos fariseus a liam erroneamente, transformando regulamentos que intentavam restringir o divórcio em bases para facilitar o divórcio. Eles perderam de vista o plano de Deus — que marido e mulher devem permanecer juntos.

Em Mateus 12, os fariseus novamente leram erroneamente quando acusaram Jesus de violar o sábado permitindo que seus discípulos colhessem grãos dos campos enquanto viajavam. Eles não tinham lido como Davi e seus companheiros comeram pão consagrado, o que era ilícito, porque tinham fome (v. 3; veja 1Sm 22)? Se eles tivessem lido a Escritura corretamente, eles saberiam que Deus diz: “Misericórdia quero, não sacrifício” (v. 7; veja Os 6.6). Isso significa que a verdadeira necessidade humana pesa mais do que regulamentos do templo e do sábado. Além disso, “aqui está quem é maior que o templo” (Mt 12.6). Isto é, se sacerdotes têm permissão de servir em um espaço que representa a presença de Deus, então os discípulos podem fazer qualquer coisa que seja necessária para auxiliar Jesus, pois ele é a presença de Deus.

Esses casos de leitura errônea demonstram que a correta exegese exige mais do que métodos apropriados. Não podemos fazer justiça à Escritura a menos que percebamos, como Agostinho disse, que o propósito final da Escritura é aumentar o “duplo amor a Deus e ao próximo”. Cristãos leem bem a Escritura quando buscam isso por si mesmos e pelos outros, e então fazem discípulos de todas as nações (Mt 28.18-20). Que leiamos a Bíblia de tal maneira que nos tornemos “homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2).

Tradução: Alan Cristie

http://ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/709/A_Importancia_de_uma_Exegese_Correta

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Graça e Glória 01 de Outubro - Meditação Vespertina


por  Charles Haddon Spurgeon

 "O Senhor dará graça e glória". (Salmos 84:11) 

Benevolência é Jeová em Sua natureza; dar é Seu deleite. Seus dons são imensuravelmente preciosos, e eles são tão livremente dados como a luz do sol. Ele dá graça para Seu eleito porque Ele o quer, para Seu redimido por causa de Seu concerto, para o chamado devido à Sua promessa, para os crentes porque eles a procuram, para os pecadores porque eles necessitam dela. Ele dá graça abundantemente, oportunamente, constantemente, voluntariamente, soberanamente; aumentando duas vezes o valor da dádiva pela maneira de sua concessão. Graça em todas as suas formas, Ele livremente rende ao Seu povo: confortando, preservando, santificando, dirigindo, instruindo, assistindo graça, Ele generosamente derrama em suas almas sem cessar, e Ele sempre o fará, não importa o que possa acontecer. Doenças podem suceder, mas o Senhor dará graça; pobreza pode por um acaso nos sobrevir, mas a graça certamente suprirá; a morte deve vir, mas a graça acenderá uma candeia na hora sombria. Leitor, quão abençoado é, a medida que os anos vão passando, e as folhagens começam novamente a cair , deleitar em uma promessa tão imarcescível como esta, “O Senhor dará graça”.  

A pequena conjunção “e” neste versículo é um diamante cravado, atando o presente com o futuro: graça e glória sempre caminharão juntos. Deus os tem casado, e ninguém pode divorcia-los. O Senhor nunca irá negar glória à alma para qual Ele tem dado livremente o viver sob Sua graça; de fato, glória nada mais é do que graça em seu vestido do Dia do Senhor, graça em completa florescência, graça como frutos de outono, suaves e perfeitos. Quão presto podemos ter glória, ninguém pode contar ! Pode ser que, antes deste mês de Outubro passar, veremos a Cidade Santa; porém, seja o intervalo longo ou curto, seremos glorificados dentro em breve. Glória, a glória do céu, a glória da eternidade, a glória de Jesus, a glória do Pai, o Senhor certamente dará aos Seus escolhidos.  

Oh, extraordinária promessa de um Deus fiel! 
 Duas argolas douradas de uma corrente celestial:  O que possui graça certamente ganhará glória.  


Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto  Cuiabá-MT.   

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Aprendendo a Combater Fogo com Fogo

por John Piper

Estar satisfeito com tudo o que Deus promete ser para nós em Jesus Cristo é a essência da fé na graça futura. Tenha em mente que, quando falo da fé na graça futura ou satisfação naquilo que Deus promete ser para nós, eu estou assumindo que uma parte essencial dessa fé e dessa satisfação é uma compreensão de Cristo como o substituto para suportar o nosso pecado, cuja obediência perfeita a Deus nos é imputada através da fé. Em outras palavras, a fé na graça futura abarca a base de todas as promessas, bem como as promessas em si. Ela entesoura Cristo como aquele cujo sangue e justiça fornecem o fundamento para toda a graça futura. E entesoura tudo o que Deus agora promete ser para nós em Cristo, por causa da obra fundamental. Sempre que falo de fé como sendo satisfeita em tudo o que Deus é para nós em Jesus, estou incluindo tudo isso nessa fé.

Essa fé é o poder que corta a raiz do pecado. O pecado tem poder por causa das promessas que faz a nós. Ele fala assim: “Se você mentir na sua declaração de imposto de renda, você terá dinheiro extra para conseguir aquilo que lhe fará mais feliz”. “Se você olhar esta pornografia, você terá uma onda de prazer que é melhor do que as alegrias de uma consciência limpa.” “Se você comer estes biscoitos quando ninguém estiver olhando, isso amenizará o seu senso de remorso e ajudará a lidar com a situação melhor do que qualquer outra coisa agora.” Ninguém peca por obrigação. Nós pecamos porque acreditamos nas promessas enganosas que o pecado faz. A Bíblia adverte “que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3:13). As promessas do pecado são mentiras.
Lutar contra a incredulidade e pela fé na graça futura significa que combatemos fogo com fogo. Nós lançamos as promessas de Deus contra as promessas do pecado. Nós nos agarramos a alguma grande promessa que Deus fez sobre o nosso futuro e dizemos a um pecado em particular: “Faça igual”! Dessa forma, fazemos o que Paulo diz em Romanos 8:13: “Se pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo”. John Owen escreveu um livro baseado nesse versículo e resumiu com: “Esteja matando o pecado, ou ele estará matando você”.4 Nós mortificamos os feitos pecaminosos antes que eles aconteçam, quando cortamos a raiz que lhes sustenta: as mentiras do pecado.

Fazer isso “pelo Espírito” significa que confiamos no poder do Espírito e, então, manejamos a “espada do Espírito”, que é a palavra de Deus (Efésios 6:17). A “palavra de Deus” é, em seu âmago, o evangelho, e então tudo o que Deus falou na sua palavra revelada. O evangelho da morte e ressurreição de Cristo não é apenas o núcleo, mas o fundamento de todas as promessas de Deus. Esse é o ponto da lógica de Romanos 8:32: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas”? “Todas as coisas” que precisamos – o cumprimento de todas as promessas de Deus – são garantidas pelo Pai ao não poupar o seu Filho. Ou, para colocar de forma positiva, todas as promessas de Deus estão garantidas a nós porque Deus enviou seu Filho para viver e morrer, a fim de cancelar os nossos pecados e tornar-se a nossa justiça. Então, quando eu digo que nós manejamos a Palavra de Deus, a espada do Espírito, o que quero dizer é que nós nos apegamos fortemente a essa verdade do evangelho centralizado em Cristo, com todas as suas promessas, e confiamos nelas em cada situação. Nós cortamos a corda de salvamento do pecado pelo poder de uma promessa superior. Ou, dito de forma mais positiva, nós liberamos o fluxo de amor pela fé na graça futura. Nós nos tornamos pessoas amorosas ao confiar nas promessas de Deus.

Tradução: Ingrid Fonseca

Fonte: Trecho do Livro Lutando Contra a Incredulidade, lançamento da Editora Fiel de Maio de 2014.

http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/687/Aprendendo_a_Combater_Fogo_com_Fogo

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Notícias da Família Gomes


Aprendendo em Serviço

Um mês de volta em África!
Passamos rápidos 12 dias em Moçambique resolvendo nossas questões de visto e documentação (que, graças ao bondoso Deus, correram sem dificuldades), e viemos para a África do Sul.
Rapidamente nos instalamos no chalé que resevaram para nossa família e já começamos a nos envolver com a nova rotina, o novo grupo de missionários e alunos que vivem na Palavra da Vida África do Sul. No total, são 30 pessoas vivendo na propriedade.
A rotina é intensa. Atividades ministeriais diárias nos convidam a servir e a aprender o tempo todo. Sim, o foco principal é aprender o inglês. O Enéias, principalmente, tem se dedicado muito aos estudos,  com aulas dadas por uma missionária, curso online, outros recursos didáticos. Mas claro que temos aprendido bem mais do que o idioma.
Como a forma mais eficiente de aprender a falar é FALANDO, desenvolver relacionamentos é parte fundamental do processo. E para nos relacionarmos, embarcamos em todas as atividades possíveis: do futebol no presídio ao clube bíblico infantil feito em um terreno vazio perto da propriedade. Das devocionais diárias às aulas no instituto bíblico. Das refeições com os alunos à lavagem da louça e limpeza do refeitório. Da reunião de jovens na igreja, dos cultos dominicais ao cultinho nos dormitórios. Da troca do telhado da futura biblioteca, da escavação para instalação de cabos elétricos à conferência missionária! Enfim...tem sempre alguma coisa acontecendo que nos permite a aprender mais inglês, mais sobre pessoas, mais sobre cultura, mais sobre servir, mais sobre Cristo.

Lá em casa...
Alguns carinhos que Deus nos faz tornam este tempo ainda mais marcante para nós.
A Ester recebeu uma grande oportunidade de estudar em uma escolinha cristã, pagando apenas os lanchinhos que a escola serve. Lá também vai poder começar o tão sonhado ballet!
A Elisa continua forte e, retomada a rotina, feliz! Tem aproveitado muito a vida com quintal e espaço de sobra para correr, cair e levantar.
A Bibiana experimentou um tempo especial de crescimento na fé e dependência do Senhor ao receber a notícia de que sua mãe sofreu um acidente no Brasil e ficou vários dias no hospital. Sua mãe já está em casa, passa bem, mas ainda inspira cuidados por ter sofrido um trauma na cabeça.
No dia 05 de junho, Enéias completou 30 anos de idade. E que grande presente foi ter seu irmão conosco nesse dia, por 10 horas! Lucas estava a caminho da Austrália e sua conexão se dava aqui em Johanesburgo.
Louvamos a Deus por seu cuidado e pela oportunidade de termos esse tempo para nos equiparmos ainda melhor para servi-Lo. Agradecemos a você, mantenedor, apoiador, amigo, intercessor por caminhar conosco também nesta etapa da jornada. 
Por favor, ore...

- Pela recuperação completa da mãe da Bibi (Ivete)



- Pela adaptação da Ester ao inglês



- Para que o objetivo de aprender o Inglês seja alcançado



- Pelos ministérios da Palavra da Vida África do Sul
Para ofertas especiais:
Banco do Brasil
Ag. 0264-x
C/c. 41.734-3
CPF: 333.098.758-81
Enéias Silva Gomes Jr.
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