quinta-feira, 25 de abril de 2013

Eu sou só um… [complete a lacuna]


por David Murray

“Eu sou só um encanador”. “Eu sou só uma dona de casa”. “Eu sou só uma secretária”. “Eu sou só um vendedor”. “Eu sou só um contador”.

As pessoas dizem  o tempo todo esse tipo de coisa para pastores.

O que está implícito nessas afirmações?

Seu trabalho é um chamado divino, mas o meu não.

Meu trabalho não é tão importante quanto o seu.

Você é mais valioso para Deus que eu.

Eu queria poder servir a Deus mais de uma vez por semana.

O que está na raiz de tudo isso é uma visão antibíblica da vocação, a ideia errônea de que apenas chamados ministeriais são chamados divinos, de que somente trabalho ministerial é trabalho de verdade, de que somente trabalho notoriamente cristão é um trabalho digno.

Como o trabalho ocupa a maior parte do nosso tempo, essas mentiras têm efeitos altamente destrutivos e negativos sobre nós.

Se você já disse ou pensou tais coisas, eu te encorajo a começar a enxergar seu trabalho pelas lentes de Romanos 11.36:

“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, [seja] a ele eternamente.  Amém”.
TODAS AS COISAS, sim, até mesmo seu trabalho:

É de Deus: Seu trabalho vem de Deus, é chamado dEle. Ele te deu o trabalho, Ele te planejou para isso, e Ele chamou você para realizá-lo hoje.

É por Deus: Você faz seu trabalho na dependência de Deus, buscando somente nEle orientação, proteção, força e bênçãos. E se fizer isso, você pode estar fazendo seu trabalho com mais fé que alguns homens em seus púlpitos!

É para Deus: você faz seu trabalho para a glória de Deus. Você trabalha como se Ele fosse seu patrão, seu gerente, seu chefe. Você lava pratos como se Ele fosse comer neles. Você desobstrui ralos como se estivesse na casa dEle, etc.

Isso não transforma positivamente a maneira como você enxerga seu trabalho e mesmo a si mesmo?

Quando você corta grama: “DEle, por Ele, para Ele”.
Quando você troca fraldas: “DEle, por Ele, para Ele”.
Quando você estuda álgebra: “DEle, por Ele, para Ele”.

O ministério não é o chamado mais elevado. O trabalho que Deus te deu é o chamado mais elevado. 

O ministério é o chamado mais elevado apenas para aqueles que Deus chamou ao ministério (e, como Paulo disse, Deus normalmente chama os menores de todos os santos para esse trabalho). Mas se Deus chamou você para outro tipo de trabalho, então esse é o Seu chamado para você.

Algo menos que essa igualdade de chamados é retornar à elevação pré-Reforma do trabalho “sagrado” acima do trabalho “secular”.

Martinho Lutero escreveu: “O trabalho dos monges e sacerdotes [podemos acrescentar: "pastores e missionários”], tão santo e árduo quanto é, não difere nem um pouco à vista de Deus do trabalho do lavrador rústico no campo ou da mulher cuidando de suas tarefas domésticas, mas todas as obras são julgadas diante de Deus pela fé somente”.

William Perkins, o puritano inglês, disse: “O ato de um pastor cuidando das ovelhas… é uma obra tão boa diante de Deus quanto os atos de um juiz em dar sentença, ou de um magistrado em governar, ou de um ministro em pregar”.

Isso não é diminuir o ministério, ou rebaixá-lo. É erguer todos os outros chamados à elevada e santa posição de dignidade e importância que Deus lhes deu.

Você não é “só” algo ou nada. Você é o que Deus fez você ser e hoje você está fazendo o que Deus te chamou para fazer.  E isso muda tudo.

Traduzido por Josaías Jr | iPródigo.com | Original aqui

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Dízimo do Homem Livre


Dízimo é a palavra que sempre vem à mente dos descrentes quando o assunto são os desvios do povo evangélico. Também, pudera! Desde que surgiram as igrejas neopentecostais e o meio protestante foi infiltrado por toda espécie de exploradores, nenhuma outra ferramenta tem sido usada de forma tão maligna para arrancar até os olhos dos pobres ignorantes do que o dízimo.

Os excessos são variados, chegando ao ponto de provocar riso: um pastor disse que quem pecou uma vez ganhando dinheiro desonesto não deve pecar de novo deixando de dar o dízimo desse mesmo dinheiro; outro fez uma promoção em sua igreja, baixando o dízimo para 5%, a fim de desbancar a concorrência. Isso sem falar nos estelionatários da fé que fazem do dízimo moeda de troca, ensinando que quanto maior for a oferta, mais abençoado será o ofertante, pois, segundo eles, Deus verá nesse gesto uma fé de primeira linha, digna de recompensa especial. O trouxa que acredita nisso vende até a única casinha que tem e dá todo o dinheiro para a igreja, pensando que assim será capaz de manipular Deus na forma como ele administra sua graça.

Em meio a tanta distorção, como o crente de verdade deve entender o ensino bíblico sobre o dízimo? É muito simples. Na Bíblia, o dízimo aparece já antes do advento da Lei Mosaica, sendo oferecido de forma voluntária por Abraão e Jacó (Gn 14.20; 28.22). Séculos mais tarde, porém, Deus elevou essa prática à categoria de obrigação e a impôs sobre todo o povo de Israel.

De fato, a Lei de Moisés exigia que os israelitas entregassem o dízimo de tudo aos levitas (Hb 7.5). A mesma lei fixava ocasiões em que o próprio ofertante podia participar das dádivas que havia separado (Dt 14.22-26).

Nos dias de Jesus essa norma ainda vigorava (Gl 4.4) e o Mestre a aprovou (Mt 23.23). Porém, com sua morte, uma nova fase começou. A Nova Aliança, diferente da mosaica, apontando Cristo como o novo sumo sacerdote diante de Deus, trouxe mudança de lei (Hb 7.12), livrando o crente das exigências do código imposto a Israel no deserto (2Co 3.7-11; Gl 3.19, 23-25; Ef 2.14-15; Cl 2.13-14; Hb 7.18-19; 8.6-7,13).

Assim, não pesa mais sobre o crente nenhum dever legal de dar o dízimo. Sob a Nova Aliança inaugurada por Cristo na cruz, ele é livre de regras acerca de como seus recursos devem ser aplicados na obra de Deus.

Aqui surge a pergunta: se o cristão está livre da norma mosaica sobre o dízimo, por que as igrejas bíblicas têm em seus cultos o momento do ofertório, quando os membros entregam suas dádivas ao Senhor?

É simples: sob a Nova Aliança, o crente é estimulado pelo Espírito Santo que nele habita a cumprir espontaneamente a justiça que há na Lei (Rm 7.4-6; 8.3-4; Hb 8.10-12). Por isso, todo crente genuíno se vê impelido por Deus a honrá-lo com recursos materiais a fim de que a causa do Senhor seja mantida neste mundo. O homem salvo, porém, faz isso livremente, cheio de alegria no coração, sem barganhar com Deus e sem ter de ser ameaçado ou forçado por falsos pastores.

Os dízimos e ofertas atuais do povo de Deus são, portanto, como os dízimos de Abraão e Jacó, santos que serviram a Deus livres da Lei e, com gratidão e entusiasmo, longe de opressões e temores, usaram seus bens materiais para a glória do Senhor, fonte, proprietário e alvo de tudo que o homem tem nesta vida.

Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria