Dízimo é a palavra
que sempre vem à mente dos descrentes quando o assunto são os
desvios do povo evangélico. Também, pudera! Desde que surgiram as
igrejas neopentecostais e o meio protestante foi infiltrado por toda
espécie de exploradores, nenhuma outra ferramenta tem sido usada de
forma tão maligna para arrancar até os olhos dos pobres ignorantes
do que o dízimo.
Os excessos são
variados, chegando ao ponto de provocar riso: um pastor disse que
quem pecou uma vez ganhando dinheiro desonesto não deve pecar de
novo deixando de dar o dízimo desse mesmo dinheiro; outro fez uma
promoção em sua igreja, baixando o dízimo para 5%, a fim de
desbancar a concorrência. Isso sem falar nos estelionatários da fé
que fazem do dízimo moeda de troca, ensinando que quanto maior for a
oferta, mais abençoado será o ofertante, pois, segundo eles, Deus
verá nesse gesto uma fé de primeira linha, digna de recompensa
especial. O trouxa que acredita nisso vende até a única casinha que
tem e dá todo o dinheiro para a igreja, pensando que assim será
capaz de manipular Deus na forma como ele administra sua graça.
Em meio a tanta
distorção, como o crente de verdade deve entender o ensino bíblico
sobre o dízimo? É muito simples. Na Bíblia, o dízimo aparece já
antes do advento da Lei Mosaica, sendo oferecido de forma voluntária
por Abraão e Jacó (Gn 14.20; 28.22). Séculos mais tarde, porém,
Deus elevou essa prática à categoria de obrigação e a impôs
sobre todo o povo de Israel.
De fato, a Lei de
Moisés exigia que os israelitas entregassem o dízimo de tudo aos
levitas (Hb 7.5). A mesma lei fixava ocasiões em que o próprio
ofertante podia participar das dádivas que havia separado (Dt
14.22-26).
Nos dias de Jesus essa
norma ainda vigorava (Gl 4.4) e o Mestre a aprovou (Mt 23.23). Porém,
com sua morte, uma nova fase começou. A Nova Aliança, diferente da
mosaica, apontando Cristo como o novo sumo sacerdote diante de Deus,
trouxe mudança de lei (Hb 7.12), livrando o crente das exigências
do código imposto a Israel no deserto (2Co 3.7-11; Gl 3.19, 23-25;
Ef 2.14-15; Cl 2.13-14; Hb 7.18-19; 8.6-7,13).
Assim, não pesa mais
sobre o crente nenhum dever legal de dar o dízimo. Sob a Nova
Aliança inaugurada por Cristo na cruz, ele é livre de regras acerca
de como seus recursos devem ser aplicados na obra de Deus.
Aqui surge a pergunta:
se o cristão está livre da norma mosaica sobre o dízimo, por que
as igrejas bíblicas têm em seus cultos o momento do ofertório,
quando os membros entregam suas dádivas ao Senhor?
É simples: sob a Nova
Aliança, o crente é estimulado pelo Espírito Santo que nele habita
a cumprir espontaneamente a justiça que há na Lei (Rm 7.4-6; 8.3-4;
Hb 8.10-12). Por isso, todo crente genuíno se vê impelido por Deus
a honrá-lo com recursos materiais a fim de que a causa do Senhor
seja mantida neste mundo. O homem salvo, porém, faz isso livremente,
cheio de alegria no coração, sem barganhar com Deus e sem ter de
ser ameaçado ou forçado por falsos pastores.
Os dízimos e ofertas
atuais do povo de Deus são, portanto, como os dízimos de Abraão e
Jacó, santos que serviram a Deus livres da Lei e, com gratidão e
entusiasmo, longe de opressões e temores, usaram seus bens materiais
para a glória do Senhor, fonte, proprietário e alvo de tudo que o
homem tem nesta vida.
Pr. Marcos Granconato
Soli Deo gloria
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