Tenho
grandes preocupações com o caminho que muitos líderes religiosos
estão seguindo hoje em dia. Parece-me que estamos desejando
reinventar a igreja, à nossa moda. Causa-me também a impressão de
que esses líderes estão mais interessados em manter o auditório
animado num frenesi recheado de entretenimento. Deus se torna, então,
um mero detalhe e não deve atrapalhar o culto-show. Se uma “ovelha”
não pode participar ou está desanimada, logo é descartada e
substituída por quem está “interessado”. Afinal, o show não
pode parar.
O
sermão acaba sendo transformado num emaranhado de chavões que levam
o povo ao delírio, desafiando-o a “contribuir” mais para com a
“causa” – não posso dizer que essa é a causa de Deus, mas
certamente é a do líder e da igreja. A Bíblia também se torna
apenas um detalhe de onde são sacados os versículos, geralmente
fora de contexto, para legitimar e sacralizar a palavra certeira do
pregador. O momento de louvor passa a ser uma verdadeira obra de arte
mobilizada por artistas bem “afinados” com a harmonia musical,
mas sem garantias de que estejam sintonizados com o mestre, vivendo
uma vida de santidade. Pois, o que importam são os resultados, a
obra refinada do entretenimento aprovado pelo público.
O
ofertório, no caso de uma igreja “de mercado”, é que acaba
sendo o clímax do “culto”. É o momento quando você deve
demonstrar a sua fé pagando o sacrifício por um bem maior, dando
para o “reino” – certamente do líder e da igreja – aquilo
que lhe é mais precioso. Num teatro e num circo há uma diferença,
você paga antes de entrar; aqui, é no meio do “show”.
Parece-me
que o que se considera é a lei de mercado em que a demanda é a
impulsora e geradora das estratégicas adotadas. Agradar o “cliente”
custe o que custar, para que ele encha de dinheiro o caixa da
denominação e mantenha a sua fidelização no rol de membros para
pontuar as estatísticas da igreja e do “sucesso” do seu líder.
Igreja é muito mais do que isso, culto é muito mais do que isso.
Aliás, não é nada disso. Igreja somos nós, pessoas por quem
Cristo morreu e ressuscitou. Viver igreja é viver em partilhamento
de vida, viver em comunhão, depender uns dos outros, ser motivo de
cura interior mútua, estimular o próximo a viver pela fé…
Culto,
muito mais do que um evento, é um estado de vida (Rm 12.1). Culto é
resultado de uma vida vivida diariamente aos pés do mestre em todos
os sentidos – no aspecto pessoal e íntimo, no matrimônio e
família, na vida profissional, na vida social etc. O mais importante
de um culto não é a pregação, não é outra coisa senão a
adoração, o louvor que flui e um coração quebrantado e contrito.
Se isso pode ser feito como obra de artista muito bem, mas se não
pode, Deus aceitará do mesmo modo.
Portanto,
temos que decidir se vivemos a igreja e cultuamos a partir dos
princípios do Evangelho ou se a transformamos num picadeiro.
Pr. Lourenço Stelio Rega
Teólogo, educador e escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário